ATA DA DÉCIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 15.08.1995.
Aos quinze
dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e cinco reuniu-se, na
Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre.
Às treze hora e quarenta e sete minutos, constatada a existência de
"quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da
presente Sessão, destinada a comemorar os cem anos de existência do Pão dos Pobres
de Santo Antônio, conforme Requerimento nº 103/95 (Processo nº 0963/95), de
autoria do Vereador Luiz Braz. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato,
Presidente desta Casa, Irmãos Valério Menegat, Arnaldo Schmitz e João Baggio,
Diretor Geral, Diretor Administrativo e Economo, respectivamente, do Pão dos
Pobres de Santo Antônio, Coronel Irani Siqueira, representante do Comando
Militar do Sul, Jornalista Firmino Sá Brito Cardoso, representante da
Associação Riograndense de Imprensa - ARI e o Senhor Warley da Silva Mito,
Presidente da Associação dos Ex-Alunos do Pão dos Pobres de Santo Antônio. O
Senhor Presidente, registrou, ainda, as presenças do Irmão Jacó Parmagnani,
Irmão Paulo Dulius, Provincial dos Irmãos Lassalistas e do Vereador Edi
Morelli, além de Telegrama do Deputado Estadual Marcos Rolim, justificando a
sua ausência e parabenizando a Casa pela homenagem ora prestada. Após, o Senhor
Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O
Vereador Jocelin Azambuja, em nome da Bancada do PTB, disse que a Instituição
homenageada é muito importante na sociedade atual, prestando um trabalho sério,
responsável, dedicado à formação da nossa juventude. O Vereador João Dib, em
nome das Bancadas do PPR e PSDB, destacou que uma das metas da Instituição é a
de formar o cidadão para que possa atuar, inclusive profissionalmente, na
sociedade. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, referiu-se ao
Senhor Carlos Martins, Advogado e ex-Árbitro de Futebol, como um exemplo de
ex-Aluno do Pão dos Pobres, que sabe honrar o nome da Instituição, salientando,
ainda, a qualidade da mão-de-obra lá formada. O Vereador Henrique Fontana, em
nome da Bancada do PT, enalteceu a solidariedade existente na Instituição, que
serve de exemplo para que sejam superados os desafios colocados para a
humanidade. O Vereador Luiz Braz, em nome das Bancadas do PDT, PMDB, PP e PPS,
lembrou o Cônego Marcelino Souza Bitencourt, fundador do Pão dos Pobres, e de
outros ex-Diretores, que tornaram possível a existência dessa Instituição,
comemorando hoje cem anos, defendendo o apoio do Poder Público à Instituição. A
seguir, entregou Placa ao Irmão João Baggio, com os seguintes dizeres:
"Homenagem ao Irmão João Baggio, Pão dos Pobres. Homenagem da Câmara
Municipal de Porto Alegre, através do Vereador Luiz Braz, a um homem que por
ser sábio e prudente é considerado uma estrela na eternidade, alguém que, a
exemplo de Cristo, veio para servir, e não para ser servido." A seguir, o
Senhor Presidente concedeu a palavra ao Irmão João Baggio, que falou em nome da
Instituição, agradecendo a homenagem prestada e fazendo um histórico do Pão dos
Pobres, referindo-se à doação feita pela Câmara Municipal de Porto Alegre para
a aquisição do terreno onde hoje se encontra a Instituição. Às quatorze horas e
cinqüenta e um minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente
declarou encerrados os trabalhos, agradecendo a presença de todos, registrando
a presença de diversos alunos da Instituição, e convidando aos Senhores
Vereadores e demais presentes para a Sessão Solene das dezessete horas de hoje.
Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados
pelo Vereador Luiz Braz, Secretário "ad hoc". Do que eu, Luiz Braz,
Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que,
após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º
Secretário e Presidente.
(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia fiel do documento original.)
O SR. PRESIDENTE (Airto
Ferronato):
Senhoras e Senhores, damos início a esta Sessão Solene que homenageia os cem
anos de existência do Pão dos Pobres de Santo Antônio, conforme Requerimento nº
103/95, de iniciativa do Ver. Luiz Braz e que teve a aprovação de todos os Srs.
Vereadores da Câmara de Porto Alegre.
Compõem a Mesa, além deste Presidente: o Irmão Valério Menegat, Diretor
do Pão dos Pobres de Santo Antônio; o Coronel Irani Siqueira, representante do
Comando Militar do Sul; o Irmão Arnaldo Schmitz, Diretor Administrativo do Pão
dos Pobres de Santo Antônio; o Irmão João Baggio, Ecônomo do Pão dos Pobres de
Santo Antônio; o Jornalista Firmino Sá Brito Cardoso, representante da
Associação Riograndense de Imprensa - ARI; e o Sr. Warley da Silva Mito,
Presidente da Associação dos ex-Alunos do Pão dos Pobres de Santo Antônio.
Senhoras e Senhores, a Câmara Municipal homenageia o centenário do Pão
dos Pobres de Santo Antônio, instituição que tem o carinho de toda esta Casa e
de todo o povo da Cidade de Porto Alegre. Criado pelo Cônego Marcelino Souza
Bitencourt para abrigar as viúvas dos soldados que participaram da Guerra do
Paraguai e da Revolução Federalista, o Pão dos Pobres continua hoje sua missão
de assistir e abrigar meninos carentes, que aprendem uma profissão e cursam o I
grau no colégio. A dedicação e o trabalho incessante dos Irmãos, ao longo dos
anos, têm oferecido novas oportunidades de vida a milhares de jovens que, de
outra forma, estariam marginalizados.
À Direção do Pão dos Pobres, aos professores, aos seus ex-alunos, seus
funcionários, seus alunos, muitos dos quais aqui presentes na tarde de hoje, o
nosso abraço efusivo neste dia de festa para toda a Cidade. Parabéns, em nome
da Presidência da Câmara Municipal de Porto Alegre, em nome da Câmara, de seus
Vereadores e em nome da Cidade de Porto Alegre.
Concedemos a palavra ao Ver. Jocelin Azambuja, que fala pela Bancada do
PTB.
O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Nós não poderíamos deixar de estar
aqui, neste momento, prestando esta homenagem ao Pão dos Pobres. Em primeiro
lugar, como Vereador desta Cidade; em segundo lugar, porque presidimos a
Comissão de Educação, Cultura e Desporto desta Casa e temos um vínculo muito
forte com este momento, porque todos nós, que somos amantes da educação, que
acreditamos que o único futuro dos nossos filhos está justamente no processo de
educação, entendemos que homenagear o Pão dos Pobres é homenagear um trabalho
sério, responsável, dedicado à formação da nossa juventude.
Quando o Ver. Luiz Braz propôs esta homenagem ao Pão dos Pobres - e nós
somos do mesmo partido, do Partido Trabalhista Brasileiro -, eu disse a ele:
"Vou ter que me manifestar, porque não posso, num momento como este,
deixar de trazer uma palavra de carinho, de homenagem aos cem anos do Pão dos
Pobres."
Nós, desde crianças, sempre acompanhamos e passamos ali, na frente do
Pão dos Pobres, e vemos a gurizada varrendo a calçada, indo lá nas oficinas e
conhecendo o trabalho, também, com o trabalho do Círculo de Pais e Mestres das
escolas de Porto Alegre, indo lá contratar serviços, já que as escolas públicas
fazem essa relação permanente com o Pão dos Pobres. Mas este trabalho, e todos
que estão aqui - Vereadores, senhoras, senhores, estudantes, professores, todos
aqueles que lá passaram e que hoje estão aqui na condição de ex-alunos -,
enfim, todos que têm cainho e amor pelo Pão dos Pobres sabem que trabalhos
dessa natureza têm de ser estimulados permanentemente na sociedade. Vivemos um
dos momentos mais graves e mais difíceis do nosso País, em que a juventude vive
profundos conflitos, em que a televisão deseduca a juventude, em que os pais
sofrem para conseguir realmente dar um caminho, e as instituições, a exemplo do
Pão dos Pobres, são fundamentais para ajudar neste processo de mostrar um
caminho, de dar uma luz a todos os nossos jovens.
Essas crianças que estão aqui querem ter um futuro, todas elas querem
ser alguém na vida, todas elas desejam ser realmente gaúchos e brasileiros que
contribuam para o futuro do seu País. Mas o que estamos dando a elas? Qual a
verdade de tudo isso? É nessa reflexão, nessa pergunta, nessa interrogação de
qual futuro estamos dando à nossa juventude, à sociedade como um todo, que
ressalta o trabalho do Pão dos Pobres, que ali tem sido feito um trabalho sério
para esta juventude. Ali tem sido oportunizado àqueles que têm mais
dificuldades a que tenham, realmente, mais oportunidade de futuro. Ali a gente
sente que há o espírito dos Irmãos, dos professores, dos pais, dos ex-alunos,
de todos aqueles que vivem dentro do Pão dos Pobres. Há, realmente, um
sentimento de profundo carinho e de entrelaçamento que faz com que o Pão dos
Pobres continue, cada vez mais, dando frutos mais positivos para a nossa
Cidade. Que bom se nós tivéssemos vários Pão dos Pobres em Porto Alegre! Que
bom se nós tivéssemos inúmeras instituições dessa natureza, que pudessem
oportunizar à nossa juventude um crescimento sadio, uma oportunidade de futuro
positivo!
Sabemos que muitos dos senhores que estão aqui, que muitos dos
porto-alegrenses e dos brasileiros que andam por aí um dia estiveram lá, nos
bancos do Pão dos Pobres, aprendendo um ofício, aprendendo uma profissão,
preparando-se para enfrentar a vida e para dar um futuro melhor ao nosso País.
Por isso que nós entendemos que Porto Alegre tinha o dever de prestar esta
homenagem, e é isso que Porto Alegre está fazendo neste momento através do seu
Poder Legislativo: prestando uma homenagem verdadeira, uma homenagem de
carinho, uma homenagem de agradecimento, porque quantos e quantos problemas o
Pão dos Pobres minimizou e resolveu para os habitantes de Porto Alegre,
oportunizando para tantos jovens um grande futuro? E vocês, que querem um
futuro, vocês, que estão aí sentados com a fitinha do Pão dos Pobres, com a
bandeirinha dos cem anos, podem ter certeza de que, se vocês continuarem
acreditando na escola de vocês, se a sociedade continuar envolvida com vocês,
vocês terão um grande futuro, serão grandes brasileiros, e nós teremos muito
orgulho de todo este País grande e maravilhoso que nós temos, que precisa só
que o povo acredite que ele é grande e maravilhoso e que ele merece um grande futuro.
Muito obrigado. Meus parabéns. (Palmas.)
Só quero pedir desculpas, porque tenho reunião da Comissão de Educação,
que acontece nesse mesmo horário e sou obrigado a presidir. Então, não poderei
continuar nesta homenagem. Por esse motivo, pedi ao Presidente para falar em
primeiro lugar. Deixo, então, meu abraço a todos. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Dib está com a
palavra para falar em nome do PPR e do PSDB.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Em 15 de agosto, há cinco anos
atrás, eu e o Irmão Arnaldo estávamos em Caxias e era Dia de Assunção de Nossa
Senhora.
Quinze de agosto é o dia do nascimento de Santo Antônio, e há cem anos
atrás, nesta data, nascia o Pão dos Pobres de Santo Antônio. Era uma pequena
semente lançada que deveria tornar-se gigante. Hoje realmente é um gigante, mas
é um gigante diferente das criaturas humanas. As criaturas humanas, depois de
36.525 dias de vida, quando conseguem atingir esse índice, estão no ocaso da
vida, nos seus últimos momentos, esperando alguns dias, alguns anos, mas
dificilmente passarão disso, e o gigante que a partir daquela semente se tornou
o Pão dos Pobres de Santo Antônio há de crescer mais ainda, há de servir muito
mais do que tem servido até agora, porque ali lhe hão de se somar todos esses
jovens que hoje estão recebendo benefícios, mas que amanhã deverão ajudar a
também distribuir benefícios. Então, nós teremos multiplicadores.
Quando, há cem anos, o Irmão Marcelino fundava o Pão dos Pobres, ele
tinha uma meta: formar o cidadão. Essa meta continua intacta, e é o que deve
ser - formar o cidadão -, e não dar ao cidadão direitos que ele pensa que tem,
mas ensinar a ele a cumprir o seu dever, porque, quando cumprimos o nosso
dever, estaremos sempre assegurando os direitos dos nossos semelhantes. Porque
hoje nós vivemos um momento que todo mundo pensa em conceder direitos, só não
sabemos a quem responsabilizar por esses direitos que nos deram.
Portanto, meus jovens, é preciso aprender a cumprir com o seu dever, e
vocês têm o dever lá, no Pão dos Pobres de Santo Antônio, de aprender tudo o
que puderem aprender e, depois de aprenderem e serem homens úteis à sociedade,
vocês também têm que estender a mão e ajudar. O Cônego Marcelino dizia que o
que ele desejava era a formação integral dos pobrezinhos e desfavorecidos pela
sorte, e isso, durante cem anos, tem sido feito, e nós todos somos testemunhas,
e nós desejamos que continuem fazendo da melhor maneira possível.
O nosso querido Irmão Valério Menegat também não mudou a mensagem do
Cônego Marcelino. Ele continua dizendo: "Formar o cidadão para a sua época
continuará sendo a proposta do Pão dos Pobres, mesmo depois do primeiro século
de existência." E isso é extremamente importante, é extremamente
gratificante. Não nos dá esperança apenas: nos dá a certeza de que nós teremos
dias melhores com aqueles meninos que vão aprender e ajudar o Pão dos Pobres
para que outros meninos recebam o mesmo tratamento que está sendo dispensado hoje
para todos vocês.
O Pão dos Pobres de Santo Antônio é a mão que estende o saber e o
alimento, e é por isso que a preocupação do Cônego Marcelino está viva hoje,
depois de cem anos. O saber está sendo dado aos meninos que não teriam
condições - porque sabemos quanto custa o ensino -, não teriam condições de
serem transformados em cidadãos úteis e capazes de conviver em uma sociedade
difícil na qual eles poderão se manter com toda dignidade, a si e a seus
familiares, criando famílias que serão exemplos, porque tudo que precisamos é
que a família seja bem estruturada, e só será quando a mão estender o saber e
também o alimento a todos.
Muitas felicidades, muita sorte a esses que fazem o dia-a-dia do Pão
dos Pobres. O nosso reconhecimento por tudo que têm feito, e temos convicção de
que continuarão fazendo muito mais. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença do
Irmão Jacó Parmagnani, autor do livro "Fundador do Pão dos Pobres de Santo
Antônio", e registramos que nós recebemos um telegrama do Deputado Marcos
Rolim, que diz: "Parabéns pela homenagem prestada aos cem anos de
existência do Pão dos Pobres de Santo Antônio, e comunico não poder comparecer
por ter compromissos assumidos anteriormente e coloco-me à disposição para o
que for necessário. Marcos Rolim, Deputado Estadual."
Está com a palavra o Ver. Reginaldo Pujol pela Bancada do PFL.
O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Vou-me permitir, de início, fazer
uma saudação especial, uma saudação afetiva, reconhecida e apropriada. Quero
saudar o ex-aluno, Dr. Carlos Martins, homem a quem me vinculo com grandes
laços de amizade e que me deu a motivação do pronunciamento desta tarde à
medida em que, no domingo, quando, ouvindo uma emissora radiofônica de Porto
Alegre, ouvi o mesmo ser entrevistado a respeito dos fatos vinculados à vida
esportiva da Cidade e do Estado e, naquela oportunidade, ele introduziu uma
referência ao Santo Antônio do Pão dos Pobres, que me deu, a partir daquele
momento, a dimensão do meu pronunciamento desta hora. Dizia Carlos Martins,
ex-aluno do Pão dos Pobres, onde inclusive se habilitou como gráfico na área da
tipografia, apesar de que hoje, como advogado, exerce a advocacia e, como
árbitro de futebol, tenha-se imposto ao respeito da comunidade rio-grandense
numa das atividades mais difíceis de se fazer respeitar, porque dificilmente
alguém que ocupa esta tarefa consegue agradar a todos, mormente em uma
competição, numa disputa como freqüentemente ocorre aqui, neste Estado, onde a
maioria é vermelha e a outra maioria é azul... Dizia o Carlos Martins que todo
o sucesso que ele conseguiu na vida ele deve à decisão da senhora sua mãe, que,
diante de suas travessuras aos treze anos, encaminhou-o para esta instituição
que deu, entre tantos valores, esse exemplo que eu entendo de colocar nesta
hora, porque entendo que é oportuno. Então, Carlos Martins, o meu abraço e as
minhas homenagens porque tu és o melhor exemplo do sucesso dessa instituição
que, fundada pelo Cônego Marcelino, sabia que haveria de colher grandes frutos,
e em ti eu exemplifico todos esses frutos que o Pão dos Pobres tem colhido
pelos exemplos de bons homens, de pessoas qualificadas que tem oferecido à
sociedade rio-grandense.
Aliás, eu trago aos dirigentes do Pão dos Pobres dois abraços muito
especiais, que vêm de Brasília, dos Deputados Jair Soares e Germano Bonow, que
foram convidados e deveriam estar presentes, mas, convocados pelo Ministro Adib
Jatene, não puderam comparecer. Sabem muito bem os dirigentes da instituição
homenageada do apreço, do carinho e do reconhecimento que o Deputado Bonow
dedica a todos eles.
Em nome do meu partido, quero saudar a entidade homenageada. Aliás, o
meu partido é o Partido da Frente Liberal e, coerente com o nome liberal, é um
partido que coloca a liberdade num plano de grande destaque: a liberdade
econômica, a liberdade social, a liberdade cultural e, especialmente, a
liberdade da criação. Eu sempre entendi e aprendi na escola, onde iniciei os
meus estudos, lá em Uruguaiana, no Instituto União, que a liberdade sem
responsabilidade deixa de ser um bem e passa a ser uma instituição colocada no
risco do perigo, porque a excessiva liberdade sem a conseqüente
responsabilidade impõe esse risco social. Eu vejo no instituto que hoje estamos
homenageando a consagração desse pressuposto, porque, entre uma falsa liberdade
e um necessário disciplinamento das atividades da adolescência, se encontra uma
receita muito adequada para se construir cidadãos íntegros, respeitáveis e
adequados à vida social em que nós estamos inseridos.
Há poucos dias, aqui nesta Casa, num debate a respeito do momentoso
problema do menor, da criança e do adolescente, eu citava o Pão dos Pobres como
exemplo e recebia como resposta dos meus interlocutores que o Pão dos Pobres
era um grão de areia no oceano diante da magnitude do problema social que
representa hoje a criança, o adolescente, especialmente aqueles que não gozaram
da possibilidade de ser fruto de um lar com pais responsáveis ou, em alguns
casos, com pais sem condições financeiras de responder pelas suas necessidades.
Pois esse grão de areia no oceano eu quero dizer que deve ser multiplicado.
Realmente, eu não desconheço que a potencialidade do Pão dos Pobres permite
atender, anualmente, de duzentas a trezentas crianças. Isso determinaria o quê?
Que nós apenas identificássemos como um esforço setorial ou que nós passássemos
a indicar como um exemplo a proliferar em todos os quadrantes do Rio Grande do
Sul, do Brasil, da sociedade em geral? É isto que eu entendo como adequado: dar
ao Pão dos Pobres a condição exemplar que ele, efetivamente, tem de servir como
modelo, da maneira pela qual, com liberdade, com respeito, com
responsabilidade, se cuida do problema da criança, do adolescente que esteja
carecendo da atenção da sociedade organizada. Ademais, nós sabemos que todo
esse esforço do Pão dos Pobres, todo esse trabalho meritório que ele realiza
decorre de uma ação bem planejada, carinhosamente executada e responsavelmente
posta em prática. Nesse conjunto de sentimentos positivos está toda a
eficiência do trabalho - no serralheiro capaz, no carpinteiro eficaz, no
marceneiro dedicado, no gráfico competente, enfim, no profissional bem
preparado que o Pão dos Pobres oferece à sociedade porto-alegrense e
rio-grandense. Com muita freqüência, nós encontramos mais do que o
profissional; encontramos o homem na melhor expressão da palavra, porque hoje,
mais do que nunca, nós precisamos criar seres moralmente qualificados para
fazer frente a uma sociedade em conflito nesse fim de século, onde os valores
pessoais, aqueles valores morais que a civilização cristã ocidental introduziu,
são postos em xeque em face dessas dificuldades momentâneas que se agudizam
dentro de uma sociedade em conflito.
Então, Irmão Menegat, quero, em nome do Partido da Frente Liberal,
afirmar a V. Sa. aquilo que naturalmente seria desnecessário, mas sabem todos
que aqui estão presentes - e o Ver. Jocelin Azambuja já acentuou esse
particular - que neste horário, regimentalmente, esta Casa Legislativa reúne as
suas Comissões Técnicas. Só isso justifica não estarem presentes neste momento
- como sei que seria o desejo - todos os trinta e três Vereadores desta Casa,
porque todos aqui, em Porto Alegre, todos que são representantes populares
desta Casa reconhecem, e o fazem com justiça, a importância, o grande
significado sócio-educativo que a instituição que V. Sa. dirige tem no nosso
contexto social.
Quero inserir entre as honrarias que o povo de Porto Alegre me concedeu
esta de um dia estar habilitado a subir a esta tribuna e, em nome do meu
partido, fazer esta justa homenagem a essa meritória instituição. Aliás, Ver.
Braz, V. Exa., que teve a feliz idéia, já em 20 de abril, desta data e deste
horário para esta finalidade, eu devo a V. Exa. um agradecimento especial à
circunstância de V. Exa. ter me permitido que eu fosse o segundo subscritor
deste Requerimento. Esta é uma alegria que partilho com meus eleitores, a de
poder ter sido instrumento efetivo nessa absolutamente justa homenagem que a
Cidade de Porto Alegre, através do seu Legislativo, presta a essa instituição
meritória.
Porto Alegre, pela sua Casa Legislativa, se engrandece hoje quando
todos juntos cantamos o "Parabéns a você" a essa centenária
instituição. Meus cumprimentos a todos, especialmente aos jovens que, com sua
fitinha azul na cabeça, simbolizam o centenário desta sempre jovem entidade: a
entidade do Santo Antônio do Pão dos Pobres. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Também registramos, com
satisfação, a presença no Plenário do Irmão Dulius, Provincial dos Irmãos
Lassalistas.
O Ver. Henrique Fontana está com a palavra pela Bancada do PT.
O SR. HENRIQUE FONTANA: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Tenho uma
alegria muito grande por falar em nome do meu partido nesta homenagem tão
merecida aos cem anos dessa instituição - o Pão dos Pobres.
Ontem, quando conversávamos e decidíamos quem representaria o PT nesta
homenagem, pensei comigo que passava diante de meus olhos a possibilidade de
talvez retribuir de alguma maneira - ainda que muito pequena, com palavras que
encontro para incentivar todas as pessoas que lutam para construir esta
instituição -, que eu teria a possibilidade de retribuir em parte, pelo menos,
aquilo que tive a felicidade de viver nos últimos três meses da minha vida. Se
não fosse por uma breve fala que fiz ontem na discussão de um projeto aqui na
Câmara, hoje seria o meu retorno à tribuna da Câmara, depois de passar por uma
dificuldade de saúde que felizmente foi vencida. E, nesse momento em que retomo
as minhas atividades como Vereador de Porto Alegre, a frase que eu talvez tenha
mais de colocar é que, de fato, vale muito a pena a gente se preocupar com os
outros, porque - ao contrário do que alguns dizem em alguns recantos de uma
sociedade que tenta muitas vezes incentivar, de forma equivocada, uma visão
individualista da solução dos problemas - é só através da solidariedade e da
união de todos os homens e mulheres que nós poderemos superar as dificuldades
que o nosso País e a humanidade vivem.
Vale a pena a gente se envolver em projetos como os senhores estão
envolvidos, ou se envolveram, ou outros que estão começando a se envolver, que
constroem uma rede de solidariedade que diz: "Eu me importo com os outros
porque os outros se importam comigo". É deste compromisso solidário que
surgirá a superação dos desafios que nós temos colocado. Ainda hoje, e lendo o
nome dessa instituição que diz tanto em palavras tão simples - o "Pão dos
Pobres" -, que hoje comemora cem anos, a humanidade, infelizmente, para
todos nós, ainda luta para que todos tenham acesso ao pão, que é talvez, ou
quase, com certeza, o direito mais elementar de toda criatura humana. Infelizmente,
por falhas nossas, por ações, desacertos, enfim, por tantas coisas, nós ainda
não conseguimos vencer esta batalha, que é a batalha de que o pão seja
garantido para todos.
Neste dia se comemoram cem anos que marcam a história de muitas pessoas
que já passaram por essa instituição, que já deixaram a sua parcela de
colaboração, de outras tantas pessoas que iniciam as suas vidas e têm a
oportunidade de viver toda a sua potencialidade pela possibilidade que está
sendo garantida exatamente pelo envolvimento de tantos que garantem a esses
jovens que eles possam viver na plenitude a sua potencialidade, porque todos
nós temos, sim, uma grande potencialidade quando nascemos. Pelo menos é assim
que eu penso e é desta forma que eu me movimento no meu cotidiano, na minha vida.
O que tem acontecido é que, em muitos momentos, a nossa sociedade não tem
permitido que todos desenvolvam plenamente as suas potencialidades.
Por isso, todos vocês - e eu não conheço a maioria das pessoas que
estão aqui - que, de uma maneira ou de outra, se envolvem nesse projeto
coletivo e solidário que tenta garantir a igualdade de oportunidade para que
todos possam desenvolver plenamente as suas potencialidades, levem da bancada
do meu partido, o Partido dos Trabalhadores, em meu nome muito pessoal, um
abraço muito solidário e muito incentivo para que todos vocês continuem assim,
se importando com a sociedade, se importando com os nossos irmãos, se
importando com cada um daqueles que ainda hoje não tem o pão que merecem e cujo
direito é inalienável.
Meus parabéns a todos vocês, meus parabéns àqueles que têm a
responsabilidade de dirigir a instituição, e vamos continuar lutando, porque,
seguramente, o futuro vai-nos apresentar uma vida melhor do que nós temos hoje.
Muito obrigado e parabéns.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Luiz
Braz, proponente da homenagem, que falará pelo PDT, pelo PMDB, pelo PP e pelo
PPS.
O SR. LUIZ BRAZ: Exmo. Sr. Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Airto Ferronato; Irmão Valério Menegat,
Diretor Geral do Pão dos Pobres de Santo Antônio, que eu tive a felicidade de
poder conhecer - e, conhecendo o Irmão Valério, eu conheci uma pessoa repleta
de energia e com toda esta energia voltada para fazer com que aquela
instituição possa propiciar benefícios a todos estes jovens que necessitam
desta obra maravilhosa que é o Pão dos Pobres; Coronel Irani Siqueira,
representante do Comando Militar do Sul; Irmão Arnaldo Schmitz, Diretor
Administrativo do Pão dos Pobres de Santo Antônio, que também tive o prazer de
conhecer - e, quando eu conheci o Irmão Arnaldo Schmitz, conheci um homem cheio
de experiências e com a história daquela instituição de que ele também faz
parte, e toda esta história está gravada na memória do Irmão Arnaldo Schmitz e
ele faz com que esta sua experiência possa ser muito benéfica àquela
instituição; Jornalista Firmino Sá Brito Cardoso, representante da Associação
Riograndense de Imprensa - ARI; Irmão João Baggio, que é a figura do amor que
está ali estampada no Pão dos Pobres e que faz com que este amor possa ser
espargido para todas as pessoas necessitadas e que precisam desta obra
maravilhosa que é o Pão dos Pobres; Sr. Warlei da Silva Mito, Presidente da
Associação dos ex-Alunos do Pão dos Pobres.
Eu também quero aqui saudar outros representantes de alunos, de
ex-alunos, que se encontram presentes. Até peço desculpas se omitir alguém, mas
vou saudar duas pessoas: o Joal, que me alertou para a necessidade de marcarmos
uma data para fazer esta homenagem, que é ex-Presidente da FEBEL - Federação
dos ex-Alunos Lassalistas, é economista, e tenho muito orgulho da amizade do
Joal; e o Raul Campazzato, que também é ex-aluno, engenheiro e atual Presidente
da FEBEL. Então, saudando os senhores, quero saudar a todos os alunos e ex-alunos,
as senhoras e os senhores e todos aqueles que vieram até aqui. Quero
cumprimentar os meus companheiros de Câmara Municipal, todos os que vieram a
esta tribuna e aqueles que não puderam vir também - muitos deles estão
trabalhando nas Comissões -, porque eles fizeram uma saudação completa ao Pão
dos Pobres. Se apenas eles tivessem vindo até aqui e feito a saudação, eu tenho
certeza de que estaria completa a homenagem.
Eu precisava vir até aqui porque eu tive uma oportunidade fantástica.
Eu pude, nos últimos dias, ler a história do Pão dos Pobres e, lendo a
história, pude entrar em contato com uma pessoa maravilhosa que eu acredito que
não tenha parâmetro, pelo menos dentro da sociedade que eu conheço, que é o
Cônego Marcelino Souza Bitencourt, que foi o fundador do Pão dos Pobres há cem
anos atrás. O denodo, a fibra desse homem, aquela obstinação em realizar o bem
para aquelas pessoas, para viúvas e órfãos, já que a situação daquela época era
desoladora em nossa sociedade! Tínhamos viúvas e órfãos que vinham da Guerra do
Paraguai e da Revolução Federalista e era preciso fazer alguma coisa. Somente
um homem repleto de ideais como o Irmão Marcelino é que poderia buscar, mercê
de todo um grande trabalho, de muita insistência, depois de receber muitos "nãos",
a concretização dessa obra. E para ele não bastava apenas a distribuição do
alimento. Ele achava que tinha que fazer alguma coisa mais, e aquelas dezoito
famílias que tiveram a oportunidade de receber a primeira graça do atendimento
dessa instituição não receberam apenas o pão, não receberam apenas o alimento,
mas a luta era para que também tivessem um lugar para morar. Hoje, qual das
nossas instituições, a não ser o próprio Pão dos Pobres, na verdade tem essa
preocupação em atender não apenas materialmente, mas também atender a parte
espiritual, não apenas dar o alimento, mas também dar o abrigo? Realmente, é
uma obra completa. E este espírito de colaboração, este espírito de devotação,
de entrega total que tinha o Irmão Marcelino, parece que este espírito
continua, realmente, a abrigar e a ser abrigado por todos aqueles que estão
participando desta obra maravilhosa que é o Pão dos Pobres.
Quando comecei a ler a história do Irmão Marcelino, do Cônego
Marcelino, comecei a pensar, por exemplo, no Irmão João Baggio, que está
naquela instituição há 45 anos como ecônomo. Até 1970... Eu lia e ficava
boquiaberto como o Pão dos Pobres trabalhava apenas com internos. Ele não tinha
domingos, feriados; ele não tinha descanso. Todos os dias estava lá,
trabalhando para fornecer o alimento, para fornecer o carinho, para fornecer
tudo aquilo que as criaturas precisavam para começar o seu crescimento tanto
espiritual como, também, material. Então, esta obra maravilhosa que começou lá,
com Marcelino, que passou pelo Irmão Firmo, que teve, inclusive, na inauguração
daquele prédio - 1930 -, a presença do grande Getúlio Vargas, teve tantas
figuras notáveis, como é o caso da Dona Sarita Chaves, que foi uma das grandes
líderes feministas de 1930 e que, liderando mulheres da alta sociedade, da
elite social daquela época, fazia com que esta obra se tornasse possível. Mas
parece que esta elite social que naquela época, 1930, deu tanto de si para que
nós pudéssemos ter uma casa para abrigar crianças, uma casa que pudesse dar uma
orientação, um segmento social para essas crianças, parece que esta sociedade,
que a elite daquele tempo não se repete agora. Parece também que os poderes
constituídos, tanto o Poder Legislativo quanto o Poder Executivo e - por que
não dizer? - o Judiciário, naquela época davam cobertura total para o Pão dos
Pobres de Santo Antônio. A gente lembra a história do Pão dos Pobres e vemos
que as verbas que aportavam ao Pão dos Pobres para que aquela obra pudesse,
realmente, chegar ao final eram de grande vulto e vinham, em sua maior parte,
ou em grande parte, do Poder Público, até porque a gente lê e aí começa a
lembrar que, em 1930, nós não tínhamos aqui nem cimento e nem ferro. Então,
tudo tinha que vir da Europa, o que tornava tudo bem mais caro. Então, todos
esses recursos ou partes deles vinham do Poder Público. Hoje, conversando com
os Irmãos que dirigem o Pão dos Pobres, fui informado de que o Poder Público,
hoje em dia, não representa, absolutamente, praticamente nada para o Pão dos
Pobres. Tudo, na verdade, é o trabalho que eles executam. Começo a pensar o
seguinte: a exemplo do que tínhamos naquela época, quando o Pão dos Pobres foi
fundado, há cem anos atrás, hoje temos crianças também abandonadas. Temos
muitos órgãos, temos muitas crianças pedindo esmola nas ruas da Cidade, muitas
sendo exploradas nas ruas da Cidade, sendo desviadas de seus rumos normais, e
nós, infelizmente, não vemos surgir um Irmão Marcelino mais uma vez para
estender a mão a essas crianças e para tentar dar uma orientação a elas.
Felizmente, nós temos o Pão dos Pobres, que não pode, é claro,
açambarcar todo o problema, resolver todo o problema, mas que já dá uma
demonstração e um exemplo notável com os seus 250 internos e, agora, com todas
as suas obras modernas, tentando fazer com que o SENAI também possa participar
e, quem sabe, tenho certeza absoluta, dar uma qualificação bem maior para essas
crianças que estão agora partindo para a sua profissionalização e, quem sabe,
para a sua realização na vida. Nós temos tantas pessoas! Agora mesmo eu ouvi o
Reginaldo Pujol citando Martins e tantas outras pessoas maravilhosas que
passaram lá pelo Pão dos Pobres e puderam ser encaminhadas através daquela
instituição e hoje são grandes homens, são grandes exemplos na vida. Quantos
mais nós ainda teremos passando por ali? Acho que é obrigação dos Poderes
Públicos, e aproveito porque sou homem público, do Legislativo: é obrigação dos
Poderes Públicos, exatamente, estender as mãos para essas pessoas que querem
fazer algo de bom para as nossas crianças, para a nossa sociedade.
Peço mais um minuto ao Presidente. Vou pedir à minha assessora para
trazer até aqui uma placa que nós mandamos confeccionar para homenagear uma das
pessoas que acredito ser, atualmente, o grande símbolo da luta que o Pão dos
Pobres empreende para que mais crianças possam ser atendidas, para que mais
amor possa ser espalhado, para que mais amor possa estar servindo de base para
que essas crianças possam continuar a sua rota na vida. Mandamos fazer esta
placa de homenagem ao Pão dos Pobres. Faço questão de ler a placa antes de
entregá-la. É uma homenagem que vamos fazer de todo o coração. (Lê.)
"Homenagem ao Irmão João Baggio, Pão dos Pobres de Santo Antônio.
Homenagem da Câmara Municipal de Porto Alegre, através do Vereador Luiz Braz, a
um homem que por ser sábio e prudente é considerado uma estrela na eternidade,
alguém que, a exemplo de Cristo, veio para servir, e não para ser
servido."
Quero agradecer a todos os senhores e faço questão de passar essa placa
ao Irmão Baggio. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Vamos conceder a palavra ao
Irmão João Baggio, que vai falar em nome do Pão dos Pobres.
O SR. JOÃO BAGGIO: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. (Lê.)
"Reverendíssimos Irmãos, prezados familiares, alunos internos,
distintos funcionários e amigos. Muito me honra e gratifica a presença de todos
vocês nesta Casa histórica e de tão relevante importância, pois tem ela a
vocação de fazer política que, todos nós sabemos, significa uma permanente
atenção para que a 'Polis', a Cidade, e nela o cidadão, possa encontrar
respaldo aos seus sagrados direitos, direitos estes que somente encontram seus
limites nos limiares de seus deveres.
Permito-me lembrar aqui as palavras do inspirado orador Dr. Mário Totta
por ocasião da inauguração do prédio histórico localizado junto à Praia de
Belas, no ano de 1930. Dizia o inspirado e profético orador: ‘Feliz aquele que
viu erguer-se esta casa. Honra aos que, tostão a tostão, pedra a pedra,
ergueram esta Cruz da Caridade, cujos braços se estendem, como os de Cristo,
para os pobres, os pequeninos e os deserdados. Mais felizes os que forem
testemunhas do bem que nela se realizará.’
O orador destacou dois grupos. O primeiro foi dos felizardos que com
muita garra e tenacidade conseguiram erguer o prédio capaz de receber de 250 a
300 meninos órfãos sob seu abrigo. O segundo grupo, os felizardos que puderam
testemunhar o bem que no Pão dos Pobres se realizou, se realiza e se realizará.
Incluo-me, desde 1950 até o presente momento, no segundo grupo, nele
permanecendo, se esta for a vontade de meus superiores, até que Deus me dê
forças suficientes e necessárias para continuar meu trabalho, e neste segundo
grupo fui realmente testemunha do bem que se realizou e se realiza.
Durante 45 anos de permanência diuturna, procurei desempenhar minhas
funções com o zelo que me devora e com as limitações que a natureza humana e as
virtudes ainda não levadas à perfeição me condicionam. Passei pelas agruras de
tempos difíceis, em que havia escassez do pão, do arroz, do feijão, da carne,
do leite, do açúcar, das hortaliças, dos tubérculos, que nem sempre eram
suficientes para as trezentas boquinhas em fase de crescimento e, portanto,
vorazes - agruras e expectativas que foram branqueando alguns dos meus já encanecidos
cabelos, mas, confiando sempre na proteção de Santo Antônio e São João Batista
de La Salle, esperava por dias melhores, que nunca tardaram em chegar.
Passei também por momentos de grande felicidade, de grande euforia,
participando cada ano da formatura de alunos internos formados e prontos para
enfrentarem a vida, o mercado de trabalho, a constituição de novas famílias,
criadas e constituídas por ex-alunos e neles percebendo sempre se tratar de
homens íntegros, bons profissionais e profissionais ‘bons’. Pude apreciar,
experimentar e vivenciar o desenvolvimento de criaturas humanas acolhidas em
tenra idade no Pão dos Pobres e vê-las amadurecendo paulatinamente sob a
orientação dos Irmãos e dedicados funcionários, desenvolvendo um trabalho
alicerçado na pedagogia lassalista, inspirado na grande lição permanente
lembrada pelo gesto de dois grandes santos protetores do Pão dos Pobres - Santo
Antônio, que aos seus pés tem um menino a quem o Santo estende um pão, e São
João Batista de La Salle, que também aos seus pés tem um menino a quem o Santo
estende um livro.
Distintos e queridos Vereadores, o pão (sacramento da alimentação
digna, direito sagrado de todos quantos se empenham com o ‘suor de seu rosto’
para conquistá-lo para si e seus familiares) e o livro (sacramento da formação
moral, ética e profissional) representam um verdadeiro ‘programa de governo’, e
esta é a bandeira, o programa, a força moral que sempre caracterizou o Pão dos
Pobres e que este modesto servidor pôde apreciar e vivenciar durante os 45 anos
que a Providência Divina me oportunizou testemunhar, colocando-me, mais uma
vez, entre as ‘felizes testemunhas do bem que nela se realizará’, reportando-me
novamente ao orador acima citado, Dr. Mário Totta.
Ilustres Vereadores, querido proponente desta distinção, Ver. Luiz
Braz, distinção que recebo com orgulho e ao mesmo tempo com a humildade de quem
tem consciência das limitações que me impediram de ter feito mais ainda do que
até o presente momento pude fazer, quero afirmar e esclarecer que tanto para
mim quanto para meus coirmãos e funcionários, por ocasião do primeiro
centenário da instituição, muito nos honra esta lembrança, pois permite-nos
voltar ao passado e lembrar aqui que esta Casa esteve intimamente ligada aos
ideários do fundador, Cônego Marcelino de Souza Bitencourt, e aos seus
sucessores, os Irmãos Lassalistas.
Antes do falecimento do fundador, ocorrido em 1911, dezesseis anos após
a fundação do Pão dos Pobres, temendo o Cônego que nenhuma congregação
religiosa pudesse dar continuidade à sua obra, deixou escrito e muito bem
esclarecido que, em caso de dissolução da mesma, restaria o sagrado ônus de
devolver à Câmara Municipal de Porto Alegre a importância de dez mil contos de
réis, importância esta generosamente doada por esta Câmara de Vereadores para a
compra do terreno na época pertencente ao Barão de Nonoai e que o Cônego
adquirira com outras ajudas, pagando um total de trinta e dois mil e quinhentos
contos de réis. Nasceu aí a estreita política de boa vizinhança entre o Pão dos
Pobres e esta Câmara, cultivada durante os anos até o presente momento, e
esperamos que a mesma continue para o futuro e que nunca o Pão dos Pobres
necessite devolver os dez mil contos de réis, visto que esta obrigação persiste
até o momento em que o Pão dos Pobres não cumpra mais os desejos e as intenções
do fundador e dos seus sucessores. Se, porventura, Porto Alegre vier um dia a
não ter mais nenhum pobre, com muita satisfação venderemos o patrimônio e
apressados aqui viremos para devolver com juros, correção monetária e muita
satisfação os dez mil contos de réis.
Enquanto isso não acontecer, desejamos que o milagre da subsistência
desta instituição - que é e sempre foi o resultado da boa e sadia convivência
entre o poder religioso e os poderes político e econômico, poderes nunca
dispensados pelo Pão dos Pobres, aliados à perseverança dos beneméritos
benfeitores - persista. Esta Instituição haverá de chegar ao final do terceiro
milênio fiel à sua identidade e às intenções de seu fundador e comemorar seu segundo
centenário ainda mais radiosa e mais brilhante.
Obrigado, Srs. Vereadores. Obrigado, Ver. Luiz Braz. Obrigado Irmãos,
internos, familiares, funcionários e amigos pela presença de todos. Tenho
dito."
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Além da presença dos
Vereadores que usaram a tribuna, registro a presença do Ver. Edi Morelli, 2º
Vice-Presidente da Câmara de Vereadores. Na verdade, Irmão Baggio, é a
sociedade que deve ao Pão dos Pobres com juros e correção monetária, não o
inverso. Parabenizo, mais uma vez, o nosso aniversariante pelo seu centenário.
Parabéns à Direção, aos Irmãos, aos professores, aos funcionários, aos
ex-alunos e aos nossos alunos todos do Pão dos Pobres de Santo Antônio.
Nós gostaríamos de registrar um abraço carinhoso, em especial para
nossa gurizada presente e dizer que hoje pela manhã, no encontro que tivemos
lá, no Pão dos Pobres, o apresentador da cerimônia fazia mais ou menos uma
enquete para que se manifestasse a nossa gurizada gremista e colorada - deu
Grêmio, disparadamente, dizendo aos colorados que nós venceremos no ano que vem
e empataremos. Parabéns a todos.
Registramos e agradecemos a presença de todos e queremos dizer que quem
está de parabéns, muito especialmente, também é a Cidade de Porto Alegre por
ter essa instituição aqui na nossa Cidade. Que bom seria se este País estivesse
repleto de Pão dos Pobres. Muito obrigado.
Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.
(Encerra-se a Sessão às 14h51min.)
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